Ao contemplarmos a criação de
Deus nos deparamos com um dos elementos mais preciosos que a obra divina
realizou, a água. São Francisco de Assis, em seu Cântico das Criaturas, louva a
Deus pela água a qual chama de irmã e exalta suas qualidades de necessária,
humilde e casta.
Todos os seres humanos, os amimais e vegetais necessitam
desse dom precioso para viverem, a água se torna sinal de vida e é para nós
indispensável. Também no âmbito religioso esse elemento está presente de modo
significativo, é a imagem de Jesus e do Santo Espirito. Cantamos na noite da
vigília pascal que “banhados em Cristo somos uma nova criatura” (2 Cor 5, 17),
a água tem a função de lavar e purificar, por isso mergulhados nas fontes
batismais e nos tomamos parte do Corpo de Cristo, e como diz São Paulo “não sou
mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
Na Sagrada Escritura encontramos diversas vezes a citação
da água como manifestação do Poder de Deus ou no cotidiano do povo: no Gêneses
com a história da criação, no diluvio e a Arca de Noé, na travessia do mar
vermelho, no batismo de Jesus, no lava-pés da última ceia, entre tantas outras
narrações.
O mais bonito é encontrar o significado espiritual que a
água nos apresenta, pois Jesus se torna a fonte viva que sacia a nossa sede. No
Antigo Testamento encontramos o povo que na travessia do deserto se lamenta
pela falta d’água e até pensam que Deus os abandonou, Moisés como intercessor,
apresenta ao Senhor a queixa do povo, como resposta o Onipotente ordena:
“Feriras a pedra e dela sairá água para o povo beber” (Ex 17, 6) esse episódio
antecede a cena da crucifixão de Jesus que tem o seu lado ferido como a rocha e
dele brota sangue e água, sacramento de amor que saciará a fome e sede do
povo.
É do Coração de Jesus que brota para nós a fonte da água
viva. O Profeta Isaias anunciou que “com alegria tirareis água das fontes da
salvação” (Is 12, 3), dessa fonte jorra água abundante (Nm 20, 1-7) que nos
lava de todo pecado e toda mancha (Zc 13, 1).
Mergulhados em Jesus experimentamos o seu amor que nos encharca de sua
graça e transforma nossa realidade miserável em maravilhas, pois “o amor de
Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5, 5).
O Evangelista João nos apresenta o encontro do Divino
Mestre com a Samaritana no poço de Jacó. Algumas atitudes de Jesus deve nos
chamar a atenção, primeiro ele sentou-se junto ao poço, talvez por que estava
cansado da caminhada, mas também como quem senta para esperar alguém, chegando
a mulher ele faz um pedido “Dá-me de beber” (Jo 4, 7), aquele que se
apresentará como fonte de água viva pede de beber a uma mulher, Jesus deixa de
lado as diferenças entre judeus e samaritanos, não se importa se está falando
com um doutor da lei ou com uma pobre mulher, o desejo de dele é ganhar os
nossos corações.
No salmo 42 nossa alma é comparada com a corça que
suspira pelas águas, essa água é o próprio Jesus. Vivemos uma verdadeira relação de amor, do
mesmo modo que suspiramos pelo Senhor, Ele tem sede de nós e deseja que nossa
alma seja para sempre sua. Santa Teresinha certa vez disse: “meu desejo de salvar as almas crescia a cada
dia, parecia-me ouvir Jesus me dizer como a Samaritana: “Dá-me de beber! ”. Era
uma verdadeira troca de amor; as almas eu dava o sangue de Jesus; a Jesus eu
oferecia estas almas refrigeradas por seu orvalho divino. Assim parecia-me
saciá-lo; e enquanto mais lhe dava de beber, mais a sede de minha pobre alminha
aumentava. E esta sede ardente que ele me dava era como a mais deliciosa bebida
de seu amor. ” Como o salmista podemos dizer que nossa alma tem sede de
Deus.
Essa experiência mística vivida por Santa Teresinha tem raízes
nas palavras do próprio Jesus quando ele diz a Samaritana, “Se conhecesses o
dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a
ele, e ele te daria água viva” (Jo 4, 10). Tantas vezes estamos sedentos e não
conseguimos saciar nossa sede, iludidos pelas tentações do mundo mergulhamos no
consumismo, nos vícios, pseudo amizades, pornografia, prostituição e todo tipo
de futilidade, mas continuamos sedentos, somente se conhecermos o dom de Deus
que é o amor, poderemos saciar nossa sede com a água viva.
A grande beleza do amor de Deus é que nos também nos
tornamos canais de sua misericórdia. A fala da jovem Teresinha anteriormente
citada mostra perfeitamente essa experiência, ao mesmo tempo que bebo da água
viva me torno fonte que jorra para a vida eterna. Disse Jesus: “quem beber da
água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se
tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna “ (Jo 4, 14). Convictos
dessa certeza não podemos resistir a esse amor, não nos resta outra opção a não
ser mergulhar no oceano de misericórdia que brota do Coração de Jesus, e como a
Samaritana, dizer: “Senhor, dá-me dessa água...” (Jo 4, 15). Jesus não cansa de nos esperar e de nos
convidar para beber de si, “Se alguém tem sede VENHA A MIM e beba quem crê em mim.
Do seu seio como diz a Escritura, manarão rios de água viva. ” (Jo 7, 37-38).
No alto da Cruz Nosso Senhor também exclamou, “Tenho sede”
(Jo 19,28), não de água, mas de nossas almas e do nosso amor. Mesmo sendo
onipotente quis se fazer pequeno e mendigar o nosso amor, Ele que se doa por
completo também espera de nós um ato de amor. “Eis aí tudo o que Jesus exige de nós. Não precisa de nossas obras, mas
unicamente de nosso amor, pois o mesmo Deus [que] declara não ter necessidade
de dizer-nos, quando está com fome, não se corre de mendigar um pouco de água à
Samaritana. Tinha sede... Mas, quando disse: "dai-me de beber" (Jo
4,7), era o amor de sua pobre criatura que o Criador do Universo reclamava.
Tinha sede de amor... Oh! sinto mais do que nunca, Jesus está com sede. Entre
os discípulos do mundo, só encontra ingratos e indiferentes; entre seus
próprios discípulos, infelizmente, só encontra poucos corações que a Ele se
entreguem sem reserva, que compreendam toda a ternura de seu amor infinito ”
(Santa Teresinha).
Que o Senhor em sua infinita caridade derrame sobre nós sua
fonte de água viva, para que como resposta também possamos nos tornar canais de
seu amor, entregando nossas vidas como oferta e sacrifico ao seu Sacratíssimo
Coração sedento de almas.