quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Vida Religiosa Consagrada: Somos Peregrinos de Esperança no Caminho da Paz

O Dia da Vida Religiosa Consagrada é uma celebração importante para reconhecer e honrar aqueles que dedicam suas vidas a servir a Deus e aos outros. Sob o tema "Peregrinos de Esperança no Caminho da Paz", refletimos sobre o compromisso dos religiosos em serem portadores de esperança e construtores da paz em um mundo muitas vezes marcado pela desigualdade, violência e desespero, sobretudo nestes tempos de guerra entre nações, somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo (Mt 13,-14) e como peregrinos neste mundo somos enviados pelo Deus da Esperança (Rm 15,15) como arautos da paz.

Neste dia especial, renovamos nossa gratidão por aqueles que escolheram seguir o caminho da vida religiosa consagrada, buscando viver de acordo com os valores do evangelho, espalhando amor, compaixão e solidariedade. Somos verdadeiros peregrinos, em constante busca pela construção de um mundo mais justo e fraterno, esses valores são dados por Deus para todas as pessoas que se abrem ao seu projeto de amor, mas de modo especial a todos os religiosos e religiosas que – segundo Santo Aníbal Maria – receberam a maior graça que Deus pode conceder a uma alma depois do santo Batismo.

Que a luz da esperança nos guie sempre, fortalecendo-nos na missão de seremos semeadores de paz e promotores da reconciliação. Que possamos continuar sendo inspiração para todas as pessoas, mostrando que, mesmo diante dos desafios, é possível caminhar rumo à paz e à harmonia. E em união com o Papa Francisco, em preparação para o Jubileu 2025, vivamos como verdadeiras pessoas orantes, adoradores do Deus da Paz em espírito e em verdade (Jo 4, 23), que rezam e vivem o Reino de Deus já aqui e agora.


 

Que o Senhor da messe e Pastor do rebanho abençoe com o dom da fidelidade todos os homens e mulheres chamados a vida religiosa e conceda a Igreja numerosas e santas vocações segundo o desejo do seu coração.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

VOCÊ CONHECE A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DO SORRISO?


 

            No dia 15 de agosto a Igreja Católica celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, antiga festa da dormição de Maria. Essa celebração tem como finalidade a contemplação de um dos dogmas marianos que segundo a fé e tradição, Nossa Senhora sendo concebida sem pecado original e não tendo cometido pecados em vida, Deus quis preservar seu corpo da corrupção da carne e no fim de sua vida na terra, tendo caído em um profundo sono, foi elevado aos céus em corpo e alma para junto do seu diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, gozar eternamente da glória dos santos.

            Neste dia 15 de agosto é celebrado muitos títulos de Nossa Senhora que por algum motivo específico não tem outra data definida, um deles é o título de NOSSA SENHORA DO SORRISO, título esse atribuído à imagem de Nossa Senhora das Vitórias que está relacionado a festa da Assunção da Bem-aventura Sempre Virgem Maria. A devoção surgiu em torno de Santa Teresinha que quando criança, sofreu com depressão por causa da morte de sua mãe (Santa Zélia Martin) e também por causa da entrada de irmã Paulina no Carmelo, a quem ela era bastante apegada, essas duas separações para a pequena Teresa lhe causaram muita dor e sofrimento.           Certa vez, muito enferma, em seu quarto, seu pai (São Luís Martin) juntamente com suas outras filhas, levaram a Imagem de Nossa Senhora das Vitórias para o quarto de Teresinha, onde faziam muitas orações na intenção da cura da pobre menina.

            Em sua autobiografia (História de uma alma), Santa Teresinha relata: «Não encontrando nenhum auxílio sobre a terra, a pobre Teresinha voltara-se também para sua Mãe do Céu; suplicava-lhe de todo coração que, enfim, tivesse piedade dela... De repente, a Santíssima Virgem me pareceu tão bela como jamais tinha visto algo tão belo. Seu rosto respirava uma bondade e uma ternura inefáveis, porém o que me penetrou até o fundo da alma foi o “encantador sorriso da Santíssima Virgem”. Então, todos os meus males desvaneceram-se, duas grossas lágrimas brotaram-me nas pálpebras e caíram silenciosamente pelas minhas faces. Eram lágrimas de uma alegria pura... Ah! Pensei: a Santíssima Virgem me sorriu, como sou feliz...» Ainda escrevendo sobre esse acontecimento, Teresinha fala sobre sua irmã Maria: «Sem nenhum esforço baixei os olhos e vi Maria que me olhava com amor. Parecia emocionada como a suspeitar o favor que a Santíssima Virgem me concedera... Ah! Era certamente a ela, às suas tocantes orações que eu devia a graça do sorriso da Rainha dos Céus. Vendo meu olhar fixo sobre nossa Senhora, dissera consigo: “Teresa está curada!” ».

            Atualmente, a devoção a Nossa Senhora do Sorriso, além dos devotos de Santa Teresinha, também é invocada por aqueles que desejam alcançar a graça da cura da depressão, transtornos e síndromes psiquiátricas e males psicossomáticos. O Sorriso de Maria não é tratado como algo cômico, mas como sinal da bondade de Deus para conosco. Através do doce e singelo sorriso de Nossa Senhora podemos voltar ao amor de Deus e entender que Ele nunca nos abandona, curados dos nossos males físicos, espirituais e psíquicos, podemos nos colocar a serviço do Reino de Deus que tem como finalidade fazer com que todos se sintam amados por Deus e pelos irmãos, encantados com o sorriso maternal de Maria sejamos também nós portadores e promotores de verdadeiros sorrisos na vida de tantas pessoas que sofrem neste mundo tão egoísta e cheio males.

            Elevemos hoje de modo especial uma prece ao Coração de Jesus por todos aqueles que sofrem com depressão e ansiedade, mas também que pelas mãos Imaculadas de Maria, sejam levadas até o Bom Deus todas as nossas intenções, para que segundo sua santa vontade e nossa necessidade, sejam distribuídos sorrisos e rosas de graças pela intercessão de Nossa Senhora e Santa Teresinha. Deus nos abençoe sempre!

 

            Nossa Senhora do Sorriso, rogai por nós!

            Santa Teresinha, rogai por nós!

 

            Você poderá encontrar a novena e oração a Nossa Senhora do Sorriso no livro EM ORAÇÃO COM A VIRGEM MARIA no link a seguir: EM ORAÇÃO COM A VIRGEM MARIA ⋆ Loja Uiclap

 

           

terça-feira, 1 de agosto de 2023

AGOSTO: MÊS VOCACIONAL

 


“No Coração da Igreja, minha Mãe, serei tudo, serei o Amor...”

(Santa Teresinha)

 

            Queridos irmãos e irmãs, o Magistério Católico no Brasil nos concede a graça de celebrar com alegria e contemplação as diversas vocações que brotam do Coração da Igreja, Corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santa Teresinha tendo compreendido esse magnífico mistério desejou assemelhar-se ao próprio Deus, sendo ela mesma, imagem e semelhança do Amor, pois Deus é Amor.[1]

            Neste ano, celebramos o III Ano Vocacional do Brasil, tendo como tema VOCAÇÃO: GRAÇA E MISSÃO  e como lema: “Corações ardentes, pés a caminho”[2]. Iluminados pela passagem bíblica que narra o encontro de Jesus com os discípulos de Emaús, temos a oportunidade de refletir como estamos vivendo a graça e a missão da vocação que Deus nos confia. Assim como aqueles discípulos, muitas vezes estamos desanimados e pensamos em abandonar o projeto iniciado, no entanto, são as noites escuras, embora pareçam assombrosas, que permitem que nossos olhos se abram para reconhecer o Senhor que caminha conosco e faz nosso coração arder.

            Como sustento de nossa vocação, nos alimentamos da Palavra de Deus, da vivência em comunidade e da Santíssima Eucaristia, esses elementos são indispensáveis para qualquer vocação que se realiza na oração e trabalho apostólico, vivendo já aqui o céu que se completará na eternidade. “Somente uma vocação alimentada pela intimidade com o Senhor poderá se tornar uma resposta autêntica à humanidade que vagueia entre tantas incertezas e inseguranças. É o amor experimentado e alimentado pela íntima amizade com Cristo que dará ao chamado a possibilidade de testemunhar com a vida o que seus lábios proferem em discursos e súplicas.”[3]

            É do Coração de Cristo que brota todas as vocações e nesse Coração encontramos a melhor escola para vivermos santamente tal chamado. Nessa santa escola aprendemos a ter um coração manso e humilde, com os mesmos sentimentos do Coração de Jesus[4], aprendendo d’Ele a capacidade de olhar para as multidões de nosso tempo que estão cansadas e abadias por tantos males espirituais, materiais e morais. Tantas pessoas de nossa sociedade, até mesmo familiares e amigos próximos vivem com ovelhas sem pastor, é preciso olhar para elas com o olhar do próprio Jesus, repleto de compaixão, e compreender que a messe é grande, mas infelizmente os operários ainda são poucos.[5]

            Celebrar o mês das vocações é assumir que todos nós somos operários da messe do Senhor, é permitir que a intimidade com Jesus faça nosso coração arder e tendo reconhecido Ele no partir do pão saímos em missão para anunciar a todos os povos a graça do Ressuscitado. Celebrar o mês vocacional é também assumir o compromisso de rezar pelas vocações, cumprindo o mandamento de Jesus de que devemos pedir ao Senhor da messe, para que ele envie mais operários para a sua messe. Compreendendo tal necessidade de obedecer a esse divino mandamento, certa vez Santo Aníbal Maria Di Francia escreveu: “qual é o remédio para a falta de vocações? Nosso Senhor o concedeu: Rogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para sua colheita. Portanto, ele está ligado à oração: remédio supremo e inefável. Denominamos este remédio inefável porque tendo indicado e exigido nosso Senhor, não pode falhar. E, se ele acentuou a oração com este objetivo, indica que quer atendê-la, senão não o teria ordenado. É como se tivesse dito: se me pedires operários para a messe, eu vos darei. O que significa também: se não me pedires, não tereis no número e na medida das necessidades.”[6]

            No mês de agosto celebramos vocações específicas, primeiro lembramos dos sacerdotes, São João Maria Vianney dizia que o sacerdote é o amor do Coração de Jesus e de fato o é, pois somente os sacerdotes podem através do Sacramento da Ordem nos trazer Jesus Cristo corpo, sangue, alma e divindade na Eucaristia, pelas mãos e palavras do sacerdote recebemos o perdão dos pecados no sacramento da penitência, é a vida do sacerdote que nos faz ter vida em Deus. Pe. Antônio Maria tem uma canção muito bonita que diz que na comunidade onde mora um padre, o povo vive mais feliz. Rezemos para que o Senhor envie mais vocacionados à vida sacerdotal, sustente aqueles que estão no processo de formação e santifique todos os que já assumiram definitivamente essa vocação.

            Celebramos também a vocação familiar, ser pai e mãe de família é ser colaborador direto na obra da criação, é assumir a missão de constituir um fértil berço de outras vocações. É na família que surgem vocações e se hoje vivemos uma crise de vocação é porque além de nossa falta de oração, também vivemos uma crise familiar. São muitas as forças malignas que querem destruir a família, se não temos casamentos santos, não teremos pais e filhos santos. Infelizmente, hoje estamos rodeados de ideologias que nutrem nossas famílias de ideias que estão longe da vontade de Deus, existe muito ataque a chamada família tradicional, mas não podemos esquecer que a família é uma instituição sagrada, tanto que o próprio Deus se encarnou no seio da Virgem Maria e quis participar de uma família. Rezemos para que as famílias vivam santamente o sacramento do matrimônio, eduquem seus filhos na fé da Igreja e ensinamentos de Jesus, para que do seu seio nasçam pessoas honestas e dedicadas na construção de um mundo mais santo e fraterno que é o Reino de Deus.

            Neste mês também dedicamos uma semana aos religiosos e religiosas, homens e mulheres que buscam configurar-se a Cristo obediente, pobre e casto. Colocando suas vidas a serviço de todos, vivendo em comunidade segundo um determinado carisma que embora seja vivido entre congregados, mas é universal e pertence a toda Igreja. São eles Rogacionistas, Jesuítas, Franciscanos, Beneditinos, Carmelitas e tantas outras Ordens, Congregações e Comunidades de Vida, seja de vida contemplativa ou de vida apostólica, todos buscam entregar-se em total consagração para que o Reino de Deus seja realidade em todos os âmbitos de nossa sociedade, principalmente entre os pobres e marginalizados, fazendo com que todos experimentem o amor de Deus.

            Não podemos esquecer dos leigos e leigas que com sua atuação na comunidade eclesial como catequistas, ministros do canto, da Palavra, da comunhão Eucarística, nos diversos serviços, pastorais e ministérios se doam para manter vivo o Corpo de Cristo que é a Igreja. Além disso, em seus trabalhos, estudos e famílias, também são fiéis testemunhas do ser cristão, levando o nome de Jesus e a fé da Igreja a todos os lugares, a vida dos leigos é o sangue nas veias da Igreja. Rezemos para que o Bom Deus continue suscitando pessoas comprometidas com fé e que através de suas atividades laborais (Políticos, professores, médicos, advogados, agricultores etc.), possam transformar nossa sociedade egoísta e doente em espaços de alegria, partilha e santidade.

            Enfim, além das vocações específicas, somos todos vocacionados à santidade, chamados a viver com os mesmos sentimentos de Jesus, somos vocacionados ao amor. Que o Bom Deus, Senhor da messe e Pastor do rebanho, derrame sobre todos nós as graças necessárias para vivermos com fidelidade o chamado que Ele nos confiou, que nossa vida seja instrumento de paz no mundo que vive em guerra, seja instrumento de amor na sociedade mesquinha e egoísta, seja instrumento e canal de santidade onde o Sagrado é desprezado e esquecido. Vivamos este mês comprometidos em rezar por todas as vocações da Igreja.

ENVIAI, SENHOR, OPERÁRIOS E OPERÁRIAS À VOSSA MESSE.

 

Ir. Alison Aroldo, RCJ



[1] 1Jo 4,8.

[2] Lc 24, 32-33.

[3] Texto base do ano vocacional, 52.

[4] Mt 11, 29.

[5] Mt 9, 35-38.

[6] Antologia Rogacionista.

Fonte da imagem: Agosto, mês vocacional (diocesejoinville.com.br) 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

VOCACIONADOS AO AMOR - Reflexões sobre o Sagra Coração de Jesus


“Então, no auge de minha alegria delirante, exclamei: Oh, Jesus, meu Amor... Encontrei, enfim, minha vocação; minha vocação é o Amor!... Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, oh meu Deus, fostes vós que me destes... No coração da Igreja, minha Mãe, serei o Amor... Assim serei tudo... Assim será realizado o meu sonho!!!” (Santa Teresinha)

Foi inspirado nesse pensamento de Santa Teresinha que intitulei este livro de VOCACIONADOS AO AMOR, sim, somos todos chamados por Deus a experimentar e viver o amor que brota do Coração de Jesus, que é manso e humilde e não se negou deixar transpassar-se pela lança do soldado no Calvário.

Certamente Santa Teresinha entendeu que além das vocações específicas, todos nós temos uma vocação por excelência que é ser imagem e semelhança do Deus Amor. A pequena Teresa não conseguia olhar para Deus a não ser como um Pai amoroso, Nele ela experimentou a mais terna doçura que alguém pode sentir e por tal amor ser tão grande e não caber unicamente em seu peito ela quis que o mundo inteiro também experimentasse o amor de Deus.

Somos vocacionados ao Amor, pois somos chamados por Deus a ter os mesmos sentimentos do Coração de Jesus, devemos ser imitadores de Cristo[1] e propagar como discípulos missionários esses sentimentos para todas as pessoas. Gosto muito da canção do Padre Zezinho que diz que é preciso amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, para que tenhamos um mundo mais feliz, para que tenhamos um mundo que realiza a vontade de Deus, para que tenhamos um mundo onde as pessoas se amem e promovam a vida em abundância para todos, como irmãos e filhos do mesmo Pai, participantes do amor do Coração de Jesus.

Apresento, neste livro, vários escritos que realizo em meus momentos de oração e meditação pessoal, sobretudo os relacionados a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, em cada reflexão trago um versículo bíblico, pensamentos dos padres da Igreja ou de algum santo que norteia a meditação e no final de cada reflexão, escrevo algumas linhas orantes que servem para melhor nos introduzir na mística apresentada.

Antes de começar propriamente as meditações, trago o OFERECIMENTO DIÁRIO escrito por Santa Teresinha ao Sagrado Coração de Jesus, que nos permite de modo orante nos consagrar e entregar ao Pai pelos méritos do misericordioso Coração do Redentor. Que essa oração se torne rotineira em nossas vidas, para que experimentando as graças celestes, tenhamos um coração semelhante ao de Jesus e vivamos nossa mais bela vocação que é o AMOR.

Deus nos abençoe sempre!



[1] 1Cor 11,1.



O LIVRO VOCÊ PODERÁ COMPRAR NO SITE DA EDITORA: VOCACIONADOS AO AMOR ⋆ Loja Uiclap 

sábado, 4 de março de 2023

FÉ E VOCAÇÃO: NOSSA RESPOSTA AO CHAMADO DE DEUS

 

            (Textos para meditação: Gn 12, 1-4a /2Tm 1, 8b-10 / Mt 17, 1-9)

 

            Deus em sua infinita misericórdia nunca esquece e nem abandona a humanidade, mesmo quando por nossa vaidade nos afastamos, Ele continua ao nosso lado e nos procura para que possamos encontrar o caminho da nossa principal vocação que é a santidade. Isso aconteceu com Abraão, nosso pai na fé, reconstituindo a aliança entre Deus e os homens que outrora havia sido quebrada por Adão.

            Nossa resposta ao chamado de Deus sempre é fundamentada na fé, é preciso acreditar em sua santa palavra e confiar em suas promessas. Quando Deus chamou Abraão para sair de sua terra e ir em busca da Terra prometida, apresentou a promessa de uma numerosa descendência, segundo o autor do Gênesis, Abraão já tinha setenta e cinco anos quando isso aconteceu. Humanamente falando, é de duvidar que se poderia a essa idade ver sua descendência tão grande, sobretudo diante de um desafio que seria deixar sua terra e partir em busca de algo desconhecido.

            Primeiro Deus chama, em seu chamado nos faz a promessa de sua benção, mas só podemos verdadeiramente responder a essa vocação se estamos sustentados por uma fé verdadeira e madura, os desafios são muitos, nós também somos chamados a deixar nossa terra, seja ela geográfica ou ideológica, para acolher o chamado de Deus e confiantes atravessar o deserto na esperança do cumprimento da promessa.

            Na atualidade, Deus continua nos chamado a buscar a terra prometida, não no sentido físico, mas nossa pátria definitiva que é o Céu. No entanto, não podemos pensar no céu somente como um fenômeno escatológico, ou seja, a grande manifestação do fim dos tempos, mas devemos pensar no céu que começa aqui e agora. São Paulo na segunda carta a Timóteo nos exorta a não nos envergonharmos de dar testemunho de nosso Senhor[1], testemunho esse que não se resume somente em palavras, mas na contínua prática da Caridade.

            Ser testemunha de Nosso Senhor em nosso tempo não é tão fácil, há muitas forças contrárias em nossa caminhada rumo à santidade, porém, como diz São Paulo, é necessário confiar no poder de Deus, Ele que nos salvou por meio do seu amado Filho no sacrifício da cruz. Assim como fez a Abraão, também nós recebemos de Deus uma promessa (benção), pela sua morte Jesus destruiu a própria morte e pela sua ressurreição nos deu a vida eterna, ou seja, responder com fé ao chamado do Senhor é tomar posse de sua promessa de que Ele veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância[2].  

            No episódio da Transfiguração do Senhor, encontramos todos esses elementos de vocação e de fé. Primeiro Jesus chama os apóstolos para subir ao monte, nesse chamado alguns elementos são importantes para nossa reflexão: Primeiro, o descolar-se, tantas vezes acomodados em nosso estilo de vida e forma de pensar não queremos sair de nossa “bolha” e nos abrir à experiência do chamado do Senhor; Segundo, subir o monte, quem costuma fazer caminhada sempre procura caminhos planos para traçar seus passos, no entanto, responder ao chamado de Deus é assumir o risco dos desafios, é preciso fé para não desviarmos do caminho e nem desistir durante o percurso, e o terceiro elemento de subir ao monte é o próprio monte, na tradição bíblica e da Igreja o monte sempre foi o lugar do encontro com Deus, nossa caminhada vocacional rumo a santidade é uma constante caminhada ao encontro do Senhor, Ele é a razão de nossa fé e caminhada, Abraão não partiu pensando em si mesmo, mas com a convicção de que sua caminhada é para Deus, com Deus e em Deus.

            No monte, Jesus se transfigura diante dos discípulos, a luz que o envolve nos ensina que quando estamos unidos ao Senhor somos iluminados e todas as nossas trevas desaparecem. A vocação a santidade é esse transfigurar-se, deixar-se envolver pela graça divina para sermos luz do mundo[3] seguindo o exemplo de Jesus a Luz maior[4]. É interessante percebermos o imediato desejo de comodismo de Pedro, diante da experiência tão boa no alto do monte, o apóstolo logo deseja ficar ali. O mesmo acontece conosco, durante a longa caminhada da vida as vezes encontramos lugares com sombra, ventilação e água fresca... “Senhor, é bom ficarmos aqui”, logo queremos armar nossa tenda e rejeitamos a ideia da continuação de uma dolorosa caminhada.

            É importante nunca esquecermos que a graça da Ressurreição só acontece quando assumimos nossa Cruz até o Calvário, assim o monte além de lugar do encontro com Deus, é também o lugar da entrega total. A santidade consiste exatamente nisso, nos entregarmos totalmente a vontade de Deus e sua vontade não se resume em apenas subir ao monte, mas depois do grande encontro é necessário descer, assim como Jesus desceu da cruz para o sepulcro, passando por essa experiência ouviremos de Deus as mesmas palavras que disse a respeito de Jesus, “Este é o meu filho amado”.  Pode ser que esse itinerário de santificação nos assuste, mas o senhor nos diz: “Não tenhais medo”.

            No monte, Jesus aparece ladeado de Moisés e Elias, representando a Lei e os profetas. Jesus é o novo Moisés, aquele que religa o povo com Deus, sua bendita Cruz nos serve de escada para os céus e em sua missão salvífica nos ensina que esse é o único e verdadeiro caminho de santidade. A figura de Elias representa que na pessoa de Jesus se realizam todas as profecias, ou seja, a promessa de Deus é cumprida.  

            Descemos o monte, assumimos como Moisés o desafio de continuar caminhando, vamos rumo a terra prometida, confiantes nas promessas do Senhor assumimos a missão de propagar seu Evangelho a todas as criaturas, sempre acompanhados do seu Santo Espírito[5], sendo seus fiéis imitadores[6] construímos o Reino de Deus que é o Céu já na Terra, mas não devemos esquecer jamais que neste mundo embora tenhamos que lugar para o bem de todos, o nosso verdadeiro lugar é na eternidade.

            Deus nos abençoe sempre!

 

“Viver de Amor não é sobre esta terra

Fixar sua tenda no alto do Tabor.

É, com Jesus, subir o Calvário;

É olhar a cruz como um tesouro!...

No Céu, devo viver de gozo;

Então, a provação terá fugido para sempre.

Mas, exilada, eu quero no sofrimento,

Viver de Amor.”

(Santa Teresinha)

 



[1] 2Tm 1, 8.

[2] Jo 10, 10.

[3] Mt 5, 14.

[4] Jo 8, 12.

[5] Mc 16, 20.

[6] 1Cor 11, 1.

Fonte da imagem: Pinte

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

UM POUCO DE EMPATIA SEMPRE NOS FAZ BEM!


Fragmento do TCC de filosofia
A ética nas relações humanas a partir do pensamento de empatia de Edith Stein



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domingo, 20 de novembro de 2022

JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO



Jesus é rei...

Seu trono é a manjedoura, 

Sua coroa é de espinhos, 

Seu cetro a Cruz,

Seu manto é vermelho tingido pelo seu sangue,

Ele não tem súditos, tem irmãos.

Sua lei é o amor. 

Viva a Jesus Cristo, rei do universo! 



Fonte da imagem:

sábado, 29 de outubro de 2022

O MEU VOTO E AS ELEIÇÕES


Meus queridos amigos e amigas, mais uma vez somos convidados a comparecer diante das urnas para escolher os nossos representantes, especialmente aquele que assumirá a chefia do Poder Executivo Nacional. Votar para Presidente da República, mais que obrigação deve ser para nós o reconhecimento de um direito constitucional que nos permite integrar ativamente nossa sociedade brasileira. 

Confesso que fico bastante preocupado com a maneira que a política é vista e trabalhada por alguns militantes. De ambos os lados, há uma radicalidade doentia que muito prejudica nosso processo democrático. Ideologias e pontos de vista diferentes sempre existiram e devem existir, isso é positivo para o bom debate. Creio que no sistema republicano democrático, mais importante que convencer o outro, é poder filtrar de nossas ideias o que há de bom e agregar aos pontos positivos do outro que também com discernimento revisou sua ideologia. 

Lamentavelmente temos hoje uma política polarizada que não está preocupada em apresentar projetos de governo, durante todo processo eleitoral vimos apenas a tentativa de desmoralização dos candidatos adversários, existe também a tentativa de instrumentalização partidária de Deus e das instituições religiosas, forte e constantemente se utiliza de informações falsas para confundir os eleitores e prejudicar os adversários. E o Brasil, o que se pensa para nosso país?

  Infelizmente os partidos estão apenas preocupados na manutenção do poder para pequenos grupos ou famílias. O bem comum não tem sido a verdadeira intenção da vida política dos nossos agentes públicos, diante dessa situação podemos dizer que nos encontramos em um mato sem cachorro, politicamente estamos sem boas opções. 

O escritor Uruguaio Eduardo Galeano certa vez disse, que “a liberdade das eleições permite que você escolha o molho com o qual será devorado”, essa é a nossa realidade, qual será sua escolha? Quero pedir com o coração triste, mas ao mesmo tempo esperançoso que você faça sua escolha consciente, sem imposição, sem mentiras, sem instrumentação da religião e sobretudo com respeito, respeito aos candidatos, às instituições, aos que pensam diferente. 

Independentemente de quem seja, Bolsonaro ou Lula, que nos próximos quatro anos sejam de paz, prosperidade, desenvolvimento e fraternidade. Que todos nós possamos viver como verdadeiros irmãos, filhos da mesma Pátria Amada, o Brasil é de todos, partido cada um tem o seu, e assim como o corpo tem muitos membros diferentes e cada um tem sua função e importância para o corpo, assim também somos nós, muitos, diferentes, mas formamos o mesmo Brasil. 

Que o Bom Deus, Senhor da messe e Pastor do rebanho nos abençoe, para que amanhã, dia das eleições, a paz, fraternidade e democracia sejam o verdadeiro lema de nossas ações e vidas.

Boas eleições para todos!



Fonte da imagem: https://jcconcursos.com.br/media/_versions/noticia/eleicoes-urna-tse-agencia-brasil_widelg.jpg

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O SUICÍDIO NÃO ESCOLHE VOCAÇÃO

 

Vivemos em uma sociedade completamente cheia de afazeres e muitas vezes nos falta tempo para realizarmos tudo o que planejamos ou queremos fazer, do mesmo modo, nos falta tempo para prestarmos atenção nas pessoas que estão próximas de nós, já temos os nossos próprios problemas e se inquietar com os problemas dos outros parece não ser algo tão importante.

            A humanidade vive uma duplicidade de identidade muito forte que é a sensibilidade enquanto carência e a indiferença para as demais situações que nos circunda. É tão certo que somos pessoas carentes que nos apegamos com facilidade a pessoas, objetos e ideologias, muitas vezes não por nos identificarmos com estas coisas, mas como uma forma de preencher um vazio existencial que tortura nosso interior. Somos indiferentes porque ao mesmo tempo que buscamos essas relações, mas as fazemos pensando somente em nossa satisfação e não nos preocupamos com o peso e a carência que o outro também vive.

            Acredito que essa carência e indiferença tem sido causa de muitos diagnósticos de síndromes, transtornos, depressões e ansiedades que diariamente somos notificados de sua existência. Muitas vezes até nos surpreendemos quando alguém nos relata que vive essas experiências, nos surpreendemos pelo fato de que não fomos capazes de ler nas entrelinhas da vida que determinada pessoa estava sofrendo e enfrentando muitas vezes sozinha essa situação.

            Como consequência dessa triste realidade em muitos casos o final é o suicídio e que triste final, embora a morte muitas vezes nos seja indiferente, mas sempre que alguém tira a própria vida a notícia causa certo impacto aos nossos ouvidos, alguns se angustiam com o acontecimento, outros tentam entender a situação, há também aqueles que se colocam como juízes e procuram culpados, mas o que a maioria não admite é que fomos indiferentes a todos os sinais que o suicida nos deu. Sim, tenho certeza de que a pessoa por mais espontânea e aparentemente feliz que estivesse, ela sempre apresenta sinais de que alguma coisa não anda bem. O desejo de suicídio não é uma estratégia para chamar a atenção, somente quem passou ou passa por esse processo sabe que o desejo de morrer ocorre pela falta de perspectiva na vida e que somente morrendo é que poderá acabar com a dor e angústia que sente, cada um sabe onde seu calo aperta, pode até parecer bobagem, mas para quem passa por essas situações sabe o peso desses sentimentos.

            O suicídio não escolhe vocação, não tem idade, gênero, classe social, religião... Nesta semana dois casos me chamaram bastante atenção, primeiro de um padre em Curitiba – PR, e como isso pode soar estranho para nós, como pode um sacerdote, um homem que deveria estar mais próximo de Deus, que tem a missão de animar e salvar as almas cometer tal ato que para muita gente é considerada uma aberração? Esquecemos que o religioso não é anjo, também é um homem com desejos e sentimentos, que chora e se alegra, que trabalha e vive com outras pessoas, que tem seus problemas e talentos. O outro caso ocorreu em Fagundes – PB, minha cidade natal, um pai de família também tirou a própria vida, era casado, tinha vários filhos, certamente tinha sua rotina de trabalho e outras atividades, mas algo também lhe pesava ao ponto de não mais suportar tal fardo.

            Percebemos que o mal não está no estilo de vida, mas penso e até pode ser um pensamento errôneo, essa realidade é algo impregnado na sociedade e na nossa maneira de nos relacionarmos com os outros, não sou do grupo de pessoas que pensam que a depressão e o suicídio sejam causados por um culpado ou trauma, pode até ocorrer, mas não é uma premissa universal, todos estamos sujeitos as doenças e enfermidades, podemos sucumbir com nossas fraquezas e o que vale a pena destacar aqui é que mesmo não sendo portadores do dom da cura, não podemos ser indiferentes ao sofrimentos físicos, espirituais e psíquicos dos outros, não é frescura, não é falta de Deus, é a realidade de nossa fraqueza humana e isso não pode ser considerada uma causa inevitável, diz um ditado popular que a união faz a força e somente unidos, vivendo a fraternidade, compartilhando nossas dores e alegrias, carregando nossas cruzes, mas também sendo um Cireneu para o outro é que atravessarmos o Calvário e chegaremos a glória.

            Os casos de depressão e suicídios aumentam cada vezes mais, não sejamos indiferentes a essas pessoas que precisam de nossa ajuda e muitas vezes gritam em silêncio por uma mão amiga, por um ombro consolador, por um ouvido atento que escute nossas angústias e conosco seja a força para superar os males de uma sociedade que se preocupa com muitas coisas, mas esquece do essencial. Deus nos abençoe sempre!

 

Alison Aroldo Fablicio da Silva

Curitiba- PR, 05 de agosto de 2022.


Fonte da imagem: https://franciscajulia.org.br/o-suicidio-uma-questao-importante-na-saude-publica-mundial/

 

sábado, 14 de maio de 2022

DISCÍPULOS ENVIADOS EM MISSÃO

 


     Para início de conversa quero destacar o significado palavra discípulo, que quer dizer aluno, aprendiz, seguidor, aquele que dá seguimento ao trabalho do seu mestre. Com essas definições podemos pontuar muitas questões para nossa reflexão acerca do nosso discipulado cristão. Como membros da Igreja, Corpo místico de Cristo, nos tornamos instrumentos da ação divina no mundo, somos convidados e impulsionados pelo Espírito Santo a ser verdadeiros continuadores da missão de Jesus que é levar a todos o Evangelho da salvação, ou seja, a Igreja é enviada por Deus a todas a gentes para ser “sacramento universal de salvação (Lumen gentium, 48), por intima exigência da própria catolicidade, obedecendo a um mandato do seu fundador (Mc 16,15) procura incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens.”  (Ad Gentes, 1)[1]

            O divino Mestre constantemente nos convida a sermos seus seguidores, “Vem e segue-me”, isso aconteceu com Mateus[2] que deixou a coletoria de impostos para seguir a Jesus, aconteceu com Pedro e André[3] que deixaram o barco e as redes para se tornarem pescadores de homens, aconteceu com as multidões[4] que o seguia em busca de milagres. Cada um a seu modo e de seu jeito se torna seguidor de Jesus, mas uma característica muito interessante do discípulo é ser aquele que dar continuidade ao trabalho do seu mestre, neste sentido o discípulo também é missionário, ele não guarda para si os ensinamentos e experiências vividas, mas trona-se propagador de toda graça que recebeu.

            Contemplando o mistério da anunciação e encarnação de Jesus, encontramos na figura da Virgem Maria um modelo especial de discípula e missionária, certamente Maria tinha seus projetos de vida, mas em determinado momento de sua história ela é surpreendida pelo divino convite de ser a mãe do Salvador[5], diante do chamado de Deus ela responde prontamente que estar disponível como humilde serva para viver a vontade do seu Senhor. Ser discípulo-missionário é também reconhecer que sozinhos não somos nada e por isso nossa vida pertence a Deus e somente a Ele devemos entregar tudo o que somos e temos para que o seu Reino de amor seja construindo aqui e agora, reino esse que viveremos na eternidade, mas que já se antecipa por ação da misericórdia do Senhor.

            A Virgem Maria tendo recebido tão grande graça se coloca a serviço de sua parenta[6] e sua ação missionária transmite também para Isabel e a criança que estava no seu vente o Espírito Santo. Quando assumimos nossa missionariedade também nos tornamos canais do Espírito Santo para tantos irmãos e irmãs que necessitam de nossa ajuda e da graça de Deus. Maria sempre seguiu seu amado Filho, esteve ao seu lado desde seu nascimento até sua Paixão, morte e ressurreição, o verdadeiro discípulo permanece junto a seu mestre mesmo quando as coisas parecem difícil, a confiança em Deus deve sempre nortear nossa caminhada missionária, pois se com Cristo morremos, com ele também ressuscitaremos[7], aquele que perseverar até o fim será salvo[8].

            As vezes pensamos que somente é missionário aquele que deixa tudo e vai para outro país ou regiões viver a missão Ad gentes, como fez São Francisco Xavier, Santo Antônio de Pádua, São José de Anchieta, São Maximiliano Maria Kolbe, Santa Paulina, São João Paulo II, Santa Teresa de Calcutá, Irmã Dorothy, Dom Pedro Casaldáliga, Drª. Zilda Arns e muitos outros que doaram sua vida a serviço dos irmãos e irmãs vivendo a caridade e evangelizando em prol do Reino de Deus. Mas também podemos ser missionários no dia a dia e nas pequenas coisas, podemos e devemos exercer nosso ministério missionário em casa com nossa família, na escola, na universidade, no trabalho, em nossa rua com nossos vizinhos, em todos os lugares que passamos. Santa Teresinha do Menino Jesus foi uma monja carmelita francesa que morreu com apenas vinte e quatro anos de idade, entrou no convento com quinze anos, sempre se dedicou a oração pela Igreja e pelos missionários, anos depois de sua canonização ela foi proclamada padroeira das missões juntamente com o grande missionário São Francisco Xavier, a diferença entre ela e Francisco é que Teresinha nunca foi para a missão no meio do povo, mas fez de sua vida uma missão, aquilo que estava a seu alcance ela entregou totalmente a disposição do projeto de Deus e se sacrificou para que suas orações e penitências pudessem fortalecer a todos os missionários espalhados no mundo inteiro.

            Santa Teresinha tinha um grande ardor missionário, certa vez ela escreveu: “Ah! apesar da minha pequenez, queria iluminar as almas como os profetas, os doutores. Tenho a vocação de apóstolo... Gostaria de correr a terra, propagar teu nome e fincar tua Cruz gloriosa no solo infiel. Ó meu amor, uma missão só não seria suficiente. Gostaria também de pregar o Evangelho nas cinco partes do mundo, até nas mais longínquas ilhas... Queria ser missionária, não só durante alguns anos, mas gostaria que fosse desde a criação do mundo e até o final dos séculos... Mas, sobretudo, meu Bem-Amado Salvador, quero derramar meu sangue para Ti até a última gota...[9], parecia que humanamente esse desejo de Teresinha era impossível, mas ela unida ao Coração de Jesus descobriu que poderia ser missionária nas pequenas coisas, sendo gentil com suas irmãs no convento, fazendo penitência pela santificação dos sacerdotes, rezando por todos os que estavam em missão. Ela descobriu que na vocação de discípulo-missionário estava a necessidade de entrar na escola do Coração de Jesus e aprender com ele que é manso e humilde[10] a sermos imagem e semelhança[11] do Amor, pois Deus é amor[12], compreendendo isso ela escreveu: “Sim, achei meu lugar na Igreja e esse lugar, meu Deus, fostes vós quem o destes a mim... no Coração da Igreja, minha Mãe, serei o Amor... serei tudo, portanto... desta forma, meu sonho será realizado![13]. Essa é a nossa grande missão, viver o amor, ser presença de Deus na vida de todas as pessoas, seja nas grandes missões ou no cotidiano de nossa realidade.

            Temos muitos exemplos de pessoas que viveram sua missão a partir de sua realidade, mas quero destacar Santo Aníbal Maria Di Francia que dedicou sua vida e seu ministério sacerdotal para cuidar dos pobres e órfãos de sua região, ele não foi a lugares longe, mas encontrou perto de si pessoas que necessitavam de ajuda material e também espiritual, ele se preocupava muito em acudir a todos os famintos, mas também se preocupava com o alimento celestial e por isso viveu o carisma do ROGATE que é suplicar ao Senhor da messe e Pastor do rebanho que envie mais operários e operárias para sua messe[14] e nós hoje somos esses operários/discípulos/missionários que o Senhor continua chamando e enviando para sua messe.

            O discípulo enviado em missão leva aos seus irmãos o amor e a graça de Deus, mas só podemos viver verdadeiramente essa missão se estamos totalmente ligados a aquele que nos enviou, é necessário manter uma relação de intimidade com o Senhor, saber que podemos inclinar nossa cabeça no peito de Jesus[15] e sem medo apresentar nossas dúvidas e limitações bem como colocar a disposição d’Ele os nossos bens e talentos, é acreditar que mais que servos somos amigos do Senhor[16], que não exercermos a missão como obrigatoriedade ou por receio de uma possível punição, mas que o fazemos porque amamos a Deus e aos nossos irmãos e irmãs[17]. Para alimentar essa intimidade espiritual temos muitas possibilidades, entre elas a meditação das Sagradas Escrituras, a Palavra de Deus deve penetrar nosso coração para que nossas ações correspondam a vontade daquele que nos chama e nos envia, também a vivência na comunidade eclesial nos coloca como pertencentes ao Corpo de Cristo, desse modo unidos na comunidade estaremos unidos a Jesus como os ramos estão unidos a videira[18], a experiência sacramental também exprime em nós a presença de Cristo, de modo especial a Eucaristia que nos alimenta nos fortalece para a missão, é na mesa eucarística que podemos reconhecer Jesus como aconteceu com os discípulos de Emaús[19] que após meditarem sobre as Sagradas Escrituras e o partir do pão saíram para anunciar que Jesus ressuscitou. A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Com este Sacramento, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Existe estreito vínculo entre as três dimensões da vocação cristã: crer, celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo, de tal modo que a existência cristã adquira verdadeiramente forma eucarística. (DA, 251)[20].

            Para encerrar nossa meditação quero voltar a passagem do evangelho que narra o momento em que Pedro e André deixaram o barco e as redes para seguir Jesus, deixo como reflexão para nossos momentos orantes as seguintes questões: 1) Quais são os barcos e redes que preciso deixar para poder verdadeiramente seguir Jesus como discípulo-missionários? 2) Pedro e André tornaram-se pescadores de homens, como eu posso hoje ser também pescador de homens e mulheres para o Reino de Deus? 3) Mesmo não podendo ir a lugares longínquos, como posso lançar as redes em águas mais profundas[21] como fizeram os grandes missionários da Igreja?

            Não tenhamos medo de assumir nossa missão, o mesmo Jesus que nos enviou para pregar o Evangelho a todas as criaturas também prometeu permanecer conosco até o fim dos tempos[22], sigamos com fé a Jesus e sejamos como Ele missionários do Amor, propagadores da Boa Nova. Deus nos abençoe sempre!



[1] Documento do CVII.

[2] Mt 9, 9-13.

[3] Mt 4, 18-22.

[4] Mt 8, 1-13.

[5] Lc 1, 28-38.

[6] Lc 1, 39-45.

[7] Rm 6,8.

[8] Mt 24,13.

[9] História de uma alma – Autobiografia de S. Teresinha.

[10] Mt 11, 28-30.

[11] Gn 1, 26.

[12] 1Jo 4,8.

[13] História de uma alma – Autobiografia de S. Teresinha.

 [14]Mt 9, 35- 38.

[15] Jo 13,25.

[16] Jo 15, 14-15.

[17] Mt 22, 37-39.

[18] Jo 15, 1-17.

[19] Lc 24, 13-25.

[20] Documento de Aparecida.

[21] Lc 5, 1-11.

[22] Mt 28, 16-20.

Fonte da imagem: https://th.bing.com/th/id/R.ae77a048e307d7f8d8cfefb991e17df0?rik=mmaaa%2b8vE2vpdQ&riu=http%3a%2f%2f3.bp.blogspot.com%2f-xuuJ0QJnmNQ%2fUx8BiCFw2dI%2fAAAAAAAABi0%2fvlO2dkp12aQ%2fs1600%2fandr%C3%A9%2c%2c%2c.jpg&ehk=BRjd0xIOzwWY2Mq6DgtbsI03%2fYK2EoW%2bDZjlMsWo0C0%3d&risl=&pid=ImgRaw&r=0 

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