sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O SUICÍDIO NÃO ESCOLHE VOCAÇÃO

 

Vivemos em uma sociedade completamente cheia de afazeres e muitas vezes nos falta tempo para realizarmos tudo o que planejamos ou queremos fazer, do mesmo modo, nos falta tempo para prestarmos atenção nas pessoas que estão próximas de nós, já temos os nossos próprios problemas e se inquietar com os problemas dos outros parece não ser algo tão importante.

            A humanidade vive uma duplicidade de identidade muito forte que é a sensibilidade enquanto carência e a indiferença para as demais situações que nos circunda. É tão certo que somos pessoas carentes que nos apegamos com facilidade a pessoas, objetos e ideologias, muitas vezes não por nos identificarmos com estas coisas, mas como uma forma de preencher um vazio existencial que tortura nosso interior. Somos indiferentes porque ao mesmo tempo que buscamos essas relações, mas as fazemos pensando somente em nossa satisfação e não nos preocupamos com o peso e a carência que o outro também vive.

            Acredito que essa carência e indiferença tem sido causa de muitos diagnósticos de síndromes, transtornos, depressões e ansiedades que diariamente somos notificados de sua existência. Muitas vezes até nos surpreendemos quando alguém nos relata que vive essas experiências, nos surpreendemos pelo fato de que não fomos capazes de ler nas entrelinhas da vida que determinada pessoa estava sofrendo e enfrentando muitas vezes sozinha essa situação.

            Como consequência dessa triste realidade em muitos casos o final é o suicídio e que triste final, embora a morte muitas vezes nos seja indiferente, mas sempre que alguém tira a própria vida a notícia causa certo impacto aos nossos ouvidos, alguns se angustiam com o acontecimento, outros tentam entender a situação, há também aqueles que se colocam como juízes e procuram culpados, mas o que a maioria não admite é que fomos indiferentes a todos os sinais que o suicida nos deu. Sim, tenho certeza de que a pessoa por mais espontânea e aparentemente feliz que estivesse, ela sempre apresenta sinais de que alguma coisa não anda bem. O desejo de suicídio não é uma estratégia para chamar a atenção, somente quem passou ou passa por esse processo sabe que o desejo de morrer ocorre pela falta de perspectiva na vida e que somente morrendo é que poderá acabar com a dor e angústia que sente, cada um sabe onde seu calo aperta, pode até parecer bobagem, mas para quem passa por essas situações sabe o peso desses sentimentos.

            O suicídio não escolhe vocação, não tem idade, gênero, classe social, religião... Nesta semana dois casos me chamaram bastante atenção, primeiro de um padre em Curitiba – PR, e como isso pode soar estranho para nós, como pode um sacerdote, um homem que deveria estar mais próximo de Deus, que tem a missão de animar e salvar as almas cometer tal ato que para muita gente é considerada uma aberração? Esquecemos que o religioso não é anjo, também é um homem com desejos e sentimentos, que chora e se alegra, que trabalha e vive com outras pessoas, que tem seus problemas e talentos. O outro caso ocorreu em Fagundes – PB, minha cidade natal, um pai de família também tirou a própria vida, era casado, tinha vários filhos, certamente tinha sua rotina de trabalho e outras atividades, mas algo também lhe pesava ao ponto de não mais suportar tal fardo.

            Percebemos que o mal não está no estilo de vida, mas penso e até pode ser um pensamento errôneo, essa realidade é algo impregnado na sociedade e na nossa maneira de nos relacionarmos com os outros, não sou do grupo de pessoas que pensam que a depressão e o suicídio sejam causados por um culpado ou trauma, pode até ocorrer, mas não é uma premissa universal, todos estamos sujeitos as doenças e enfermidades, podemos sucumbir com nossas fraquezas e o que vale a pena destacar aqui é que mesmo não sendo portadores do dom da cura, não podemos ser indiferentes ao sofrimentos físicos, espirituais e psíquicos dos outros, não é frescura, não é falta de Deus, é a realidade de nossa fraqueza humana e isso não pode ser considerada uma causa inevitável, diz um ditado popular que a união faz a força e somente unidos, vivendo a fraternidade, compartilhando nossas dores e alegrias, carregando nossas cruzes, mas também sendo um Cireneu para o outro é que atravessarmos o Calvário e chegaremos a glória.

            Os casos de depressão e suicídios aumentam cada vezes mais, não sejamos indiferentes a essas pessoas que precisam de nossa ajuda e muitas vezes gritam em silêncio por uma mão amiga, por um ombro consolador, por um ouvido atento que escute nossas angústias e conosco seja a força para superar os males de uma sociedade que se preocupa com muitas coisas, mas esquece do essencial. Deus nos abençoe sempre!

 

Alison Aroldo Fablicio da Silva

Curitiba- PR, 05 de agosto de 2022.


Fonte da imagem: https://franciscajulia.org.br/o-suicidio-uma-questao-importante-na-saude-publica-mundial/

 

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