sábado, 4 de março de 2023

FÉ E VOCAÇÃO: NOSSA RESPOSTA AO CHAMADO DE DEUS

 

            (Textos para meditação: Gn 12, 1-4a /2Tm 1, 8b-10 / Mt 17, 1-9)

 

            Deus em sua infinita misericórdia nunca esquece e nem abandona a humanidade, mesmo quando por nossa vaidade nos afastamos, Ele continua ao nosso lado e nos procura para que possamos encontrar o caminho da nossa principal vocação que é a santidade. Isso aconteceu com Abraão, nosso pai na fé, reconstituindo a aliança entre Deus e os homens que outrora havia sido quebrada por Adão.

            Nossa resposta ao chamado de Deus sempre é fundamentada na fé, é preciso acreditar em sua santa palavra e confiar em suas promessas. Quando Deus chamou Abraão para sair de sua terra e ir em busca da Terra prometida, apresentou a promessa de uma numerosa descendência, segundo o autor do Gênesis, Abraão já tinha setenta e cinco anos quando isso aconteceu. Humanamente falando, é de duvidar que se poderia a essa idade ver sua descendência tão grande, sobretudo diante de um desafio que seria deixar sua terra e partir em busca de algo desconhecido.

            Primeiro Deus chama, em seu chamado nos faz a promessa de sua benção, mas só podemos verdadeiramente responder a essa vocação se estamos sustentados por uma fé verdadeira e madura, os desafios são muitos, nós também somos chamados a deixar nossa terra, seja ela geográfica ou ideológica, para acolher o chamado de Deus e confiantes atravessar o deserto na esperança do cumprimento da promessa.

            Na atualidade, Deus continua nos chamado a buscar a terra prometida, não no sentido físico, mas nossa pátria definitiva que é o Céu. No entanto, não podemos pensar no céu somente como um fenômeno escatológico, ou seja, a grande manifestação do fim dos tempos, mas devemos pensar no céu que começa aqui e agora. São Paulo na segunda carta a Timóteo nos exorta a não nos envergonharmos de dar testemunho de nosso Senhor[1], testemunho esse que não se resume somente em palavras, mas na contínua prática da Caridade.

            Ser testemunha de Nosso Senhor em nosso tempo não é tão fácil, há muitas forças contrárias em nossa caminhada rumo à santidade, porém, como diz São Paulo, é necessário confiar no poder de Deus, Ele que nos salvou por meio do seu amado Filho no sacrifício da cruz. Assim como fez a Abraão, também nós recebemos de Deus uma promessa (benção), pela sua morte Jesus destruiu a própria morte e pela sua ressurreição nos deu a vida eterna, ou seja, responder com fé ao chamado do Senhor é tomar posse de sua promessa de que Ele veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância[2].  

            No episódio da Transfiguração do Senhor, encontramos todos esses elementos de vocação e de fé. Primeiro Jesus chama os apóstolos para subir ao monte, nesse chamado alguns elementos são importantes para nossa reflexão: Primeiro, o descolar-se, tantas vezes acomodados em nosso estilo de vida e forma de pensar não queremos sair de nossa “bolha” e nos abrir à experiência do chamado do Senhor; Segundo, subir o monte, quem costuma fazer caminhada sempre procura caminhos planos para traçar seus passos, no entanto, responder ao chamado de Deus é assumir o risco dos desafios, é preciso fé para não desviarmos do caminho e nem desistir durante o percurso, e o terceiro elemento de subir ao monte é o próprio monte, na tradição bíblica e da Igreja o monte sempre foi o lugar do encontro com Deus, nossa caminhada vocacional rumo a santidade é uma constante caminhada ao encontro do Senhor, Ele é a razão de nossa fé e caminhada, Abraão não partiu pensando em si mesmo, mas com a convicção de que sua caminhada é para Deus, com Deus e em Deus.

            No monte, Jesus se transfigura diante dos discípulos, a luz que o envolve nos ensina que quando estamos unidos ao Senhor somos iluminados e todas as nossas trevas desaparecem. A vocação a santidade é esse transfigurar-se, deixar-se envolver pela graça divina para sermos luz do mundo[3] seguindo o exemplo de Jesus a Luz maior[4]. É interessante percebermos o imediato desejo de comodismo de Pedro, diante da experiência tão boa no alto do monte, o apóstolo logo deseja ficar ali. O mesmo acontece conosco, durante a longa caminhada da vida as vezes encontramos lugares com sombra, ventilação e água fresca... “Senhor, é bom ficarmos aqui”, logo queremos armar nossa tenda e rejeitamos a ideia da continuação de uma dolorosa caminhada.

            É importante nunca esquecermos que a graça da Ressurreição só acontece quando assumimos nossa Cruz até o Calvário, assim o monte além de lugar do encontro com Deus, é também o lugar da entrega total. A santidade consiste exatamente nisso, nos entregarmos totalmente a vontade de Deus e sua vontade não se resume em apenas subir ao monte, mas depois do grande encontro é necessário descer, assim como Jesus desceu da cruz para o sepulcro, passando por essa experiência ouviremos de Deus as mesmas palavras que disse a respeito de Jesus, “Este é o meu filho amado”.  Pode ser que esse itinerário de santificação nos assuste, mas o senhor nos diz: “Não tenhais medo”.

            No monte, Jesus aparece ladeado de Moisés e Elias, representando a Lei e os profetas. Jesus é o novo Moisés, aquele que religa o povo com Deus, sua bendita Cruz nos serve de escada para os céus e em sua missão salvífica nos ensina que esse é o único e verdadeiro caminho de santidade. A figura de Elias representa que na pessoa de Jesus se realizam todas as profecias, ou seja, a promessa de Deus é cumprida.  

            Descemos o monte, assumimos como Moisés o desafio de continuar caminhando, vamos rumo a terra prometida, confiantes nas promessas do Senhor assumimos a missão de propagar seu Evangelho a todas as criaturas, sempre acompanhados do seu Santo Espírito[5], sendo seus fiéis imitadores[6] construímos o Reino de Deus que é o Céu já na Terra, mas não devemos esquecer jamais que neste mundo embora tenhamos que lugar para o bem de todos, o nosso verdadeiro lugar é na eternidade.

            Deus nos abençoe sempre!

 

“Viver de Amor não é sobre esta terra

Fixar sua tenda no alto do Tabor.

É, com Jesus, subir o Calvário;

É olhar a cruz como um tesouro!...

No Céu, devo viver de gozo;

Então, a provação terá fugido para sempre.

Mas, exilada, eu quero no sofrimento,

Viver de Amor.”

(Santa Teresinha)

 



[1] 2Tm 1, 8.

[2] Jo 10, 10.

[3] Mt 5, 14.

[4] Jo 8, 12.

[5] Mc 16, 20.

[6] 1Cor 11, 1.

Fonte da imagem: Pinte

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