quarta-feira, 30 de março de 2022

FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO: “FALA COM SABEDORIA, ENSINA COM AMOR”. (Pr 31, 26)

 A campanha da Fraternidade deste ano de 2022 traz como tema central a Educação como reflexão muito pertinente para toda a sociedade. Partindo da ideia de que educar também é ação divina, pois Deus sempre educou seu povo, nós como Igreja juntamente com todos os setores sociais devemos olhar para educação como algo além da transmissão de conhecimentos, pois como nos fala o lema deste ano, educar é falar com sabedoria e ensinar com amor, ou seja, não se resume a prática de sala de aula, mas abrange todas as questões de nossa vida cotidiana.

            Tomamos como exemplo Jesus que foi um grande pregador e transmissor de conhecimentos, mas que com sua vida também ensinava e educava seus discípulos para serem não somente cidadãos da terra e sim também do céu. Na parábola da mulher adultera[1] percebemos que a educação não se restringe a detenção do conhecimento, mas é preciso levar em conta todas as questões que envolve as diversas situações da vida. Para os fariseus e escribas o importante é saber o que diz a lei, eles tinham esse conhecimento, mas lhes faltava a graça de saber viver tais conhecimentos de tal maneira que fosse possível construir uma fraternidade alicerçada na justiça e na paz.[2]

            Jesus como bom educador não se prende as letras frias da lei que por sinal não estava sendo totalmente cumprida, levam até o  Senhor uma mulher que estava sendo acusa de adultério, mas segundo a lei de Moises o homem que estava com a mulher também deveria ser punido[3] e no entanto somente a mulher estava sendo acusada naquele momento. Muitas vezes o conhecimento é usado apenas em benefício próprio ou para alimentar as nossas conveniências, mas com sua atitude misericordiosa Jesus nos apresenta a pedagogia do amor, em nenhum momento Jesus despreza a lei ou diz que ela não serve, mas traz um novo sentido para essa lei dentro do contexto e realidade no qual estavam inseridos, “aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”[4], com essa frase o Mestre faz com que os acusadores reflitam sobre a lei e também sobre suas vidas, por isso o peso da idade e da experiência tem grande destaque quando um a um vão saindo a começar pelos mais velhos.

            Em diversas passagens dos evangelhos encontramos Jesus no Templo ou em outros lugares ensinando ao povo sobre as Sagradas Escrituras e sobre o Reino de Deus, ele cheio do Espírito Santo sempre ensina com amor fugindo de qualquer interpretação cega da Palavra de Deus. A pedagogia de Jesus nos ensina que Educação acontece com diálogo, é um processo de constante troca de conhecimentos e experiências, no caso da mulher adultera Jesus conversa com os fariseus e também com a mulher, do mesmo modo permite que eles falem e se coloca disponível a ouvir. “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor” Jesus, então lhe disse: Eu também não te condeno. Vai e de agora em diante, não peques mais”[5]. Com essa atitude Jesus nos apresenta o principal víeis da educação que é conduzir a pessoa pelo caminho certo, não se trata de repressão ou adestramento como cita o texto base da CF 2022, mas de condução da pessoa para fazê-la sair do erro e seguir no caminho da sabedoria.

            Dois pontos muito importantes que devemos destacar no texto da CF 2022, primeiro é a questão de que a educação não está presa a instituição escolar, muitas vezes pensamos que é obrigação da escola/universidade e do professor educar nossas crianças e jovens, mas essa missão é de toda sociedade, as instituições acadêmicas têm grande importância no processo educacional, mas focam principalmente na transmissão do conhecimento. Educação é algo mais amplo, esse ensinamento deve fazer parte de todas as áreas de nossa sociedade, lembremos do velho ditado que diz “educação vem de berço”, ou seja, ela começa em casa na família e deve ser assumida também pela sociedade civil, todos são responsáveis pela educação de todos. Outro ponto que merece destaque é a abordagem que o texto faz em relação as instituições escolares, públicas e privadas, inclusive as de educação religiosa, que devem a partir de suas realidades e condições trabalhar para que o processo educativo seja cada mais amplo com a intenção de humanizar as pessoas e não apenas para uma formação tecnológica e individualista em busca do lucro.

            Dentro dessa perspectiva educacional a vida religiosa consagrada também assume um papel importantíssimo, como operários da messe do Senhor somos seus discípulos e com ele aprendemos a pedagogia do amor. Os diversos problemas de nossa sociedade pós-moderna e pós-pandemia são desafiadores e sem dúvidas a Educação foi um dos setores que mais sofreu com essas realidades, a família, as nossas comunidades e movimentos foram atingidos por um relativismo das coisas que não se preocupa mais em seguir o caminho reto, a educação parece ter se resumido a um simples cronograma letivo e o bem comum deixou de ser mais importante. Dentro dessa realidade “é preciso educar para viver em comunhão. Educar para conceber a democracia como um estado de participação. Educar como ação esperançosa na capacidade de aprender do humano e de estabelecer relações mais fraternas em sociedade e com a natureza”[6], precisamos ser educadores e nos deixar educar, essa conexão com o outro é também a pedagogia do encontro, que ouve, fala, ensina e vive.

FONTE DA IMAGEM: Obras de misericórdia: Suportar com paciência as fraquezas do próximo - Portal Divina Misericórdia (misericordia.org.br) 



[1] Jo 8, 1-11

[2] Texto Base CF2022, p.17.

[3] Dt 22, 22.

[4] Jo 8,7.

[5] Jo 8, 10-11.

[6] Texto Base CF 2022, p. 46.

sábado, 12 de março de 2022

MESTRE, É BOM ESTARMOS AQUI (LC 9,33)

 

Para nós cristãos a espiritualidade tem grande importância pois é um método necessário que nos leva a transcendência, quando estamos juntos de Deus podemos experimentar sua glória que nos enche de luz e nos ajuda no processo de santidade que todo cristão vive durante este peregrinar terrestre que estamos.

            Como cristão devemos manter sempre acessa em nós a chama da confiança na Divina Providência,  Deus é fiel[1] e nunca abandona seus filhos, Ele faz conosco alianças de salvação para que possamos experimentar de sua glória e como peregrinos que somos neste exilio do céu, caminhamos rumo a santidade para vivermos plenamente as coisas do alto[2]. Quando lemos no capítulo 15 do livro do Gênesis a narração da aliança de Deus com Abrão, podemos perceber que é exatamente a confia de Abrão em uma promessa humanamente impossível que agrada o coração do Senhor.

            Vivemos constantemente em processo de conversão, diariamente precisamos nos lançar nos braços de Deus para receber dele a graças necessárias a cada um. Como Abrão, precisamos sair de onde estamos e oferecer a Deus um sacrifício de louvor, não mais de animais, mas da nossa própria vida. Assim como Cristo se ofereceu na cruz para a expiação dos pecados da humanidade, nós nos oferecemos com nossas cruzes diárias para sermos instrumentos do amor divino e pedras vivas na construção do Reino de Deus pregado por Jesus.

            Abrão foi conduzido por Deus para fora de onde estava, a fim de que  ele experimentasse sua glória, o mesmo acontece com Pedro, Tiago e João, quando Jesus os leva para a montanha para orar[3]. Desses episódios podemos tirar grandes ensinamos, primeiro devemos sempre ficarmos atentos ao Senhor que nos chama, Deus chamou Abrão, Jesus chamou os apóstolos. Segundo ponto importante é que muitas vezes precisamos nos deslocar, seja para fora ou para a montanha, nesse sentido não devemos nos prender simplesmente a questão física ou geográfica, mas muitas vezes esse sair significa entrar em nosso interior para que possamos de fato sentir a presença de Deus que habita em nós.

            Subir a montanha significa ficar mais perto de Deus, como vocacionados a santidade estamos sempre subindo esse monte, dia após dia vamos caminhando até o topo para que vejamos o esplendor da glória divina. Na transfiguração de Jesus narrada pelo evangelista Lucas encontramos o prenuncio do que também será nossa transfiguração, pois se com Cristo morremos, também com ele ressuscitaremos[4]  e é nele que encontramos a fundamentação de nossa fé testemunhada pela Lei e pelos Profetas simbolizados em Moisés e Elias[5] que também aparecem junto ao Cristo glorioso no momento de sua transfiguração.

            É interessante que quando Pedro percebe naquele momento de êxtase a glória de Deus, logo se preocupa em querer montar tendas para permanecer ali, “Mestre, é bom estarmos aqui”, caminhar até o alto da montanha e experimentar a graça de Deus não significa que devemos permanecer lá e num ato quase egoísta querer tal graça somente para si, é preciso descer a montanha, sair de nós mesmos e levar também aos outros tal graça. Nós que cremos na comunhão dos santos podemos perceber isso de forma muita clara quando recorremos aos nossos santos de devoção com uma prece de intercessão, eles que já estão na glória e comtemplam a Face Deus, continuam com suas orações descendo a montanha para nos trazer as graças e realizações das promessas divinas. Nós que aqui ainda estamos, devemos também descer nosso monte interior e levar aos irmãos e irmãos, através da caridade e fraternidade a luz do Cristo transfigurado.

            Jesus no alto da cruz ficou totalmente desfigurado, não tinha aparência humana[6], muitas pessoas hoje também estão desfiguradas e sem aparência humana por causa da guerra, da fome, das doenças e tantos outros males que nos tiram a dignidade, também nesses irmãos Jesus continua hoje sendo o servo sofredor, que tantas vezes sucumbe com o peso da cruz e necessita da ajuda de um cireneu. Que com a meditação da Palavra de Deus, nossos momentos orantes e a vivência do que celebramos na Sagrada Liturgia, sejamos alimentados e fortalecidos para cumprir nossa missão de sermos canais da graça de Deus e assim construindo o Reino de Deus poderemos juntos repetir, Mestre, é bom estarmos aqui.

            Deus nos abençoe sempre!



[1] 1Cor 1, 9.

[2] Cl 3, 1-2.

[3] Lc 9, 28-36.

[4] Rm 6, 8.

[5] Prefácio: A transfiguração do Senhor – Missal Romano.

[6] Is 52, 14.

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA BEM-AVENTURADA SEMPRE VIRGEM MARIA

  Caríssimos irmãos e irmãs, nos reunimos hoje como membros do Corpo místico de Cristo para elevarmos ao Bom Deus nossos louvores por nos te...