A campanha da Fraternidade deste ano de 2022 traz como tema central a Educação como reflexão muito pertinente para toda a sociedade. Partindo da ideia de que educar também é ação divina, pois Deus sempre educou seu povo, nós como Igreja juntamente com todos os setores sociais devemos olhar para educação como algo além da transmissão de conhecimentos, pois como nos fala o lema deste ano, educar é falar com sabedoria e ensinar com amor, ou seja, não se resume a prática de sala de aula, mas abrange todas as questões de nossa vida cotidiana.
Tomamos como exemplo Jesus que foi um grande pregador e
transmissor de conhecimentos, mas que com sua vida também ensinava e educava
seus discípulos para serem não somente cidadãos da terra e sim também do céu.
Na parábola da mulher adultera[1]
percebemos que a educação não se restringe a detenção do conhecimento, mas é
preciso levar em conta todas as questões que envolve as diversas situações da
vida. Para os fariseus e escribas o importante é saber o que diz a lei, eles
tinham esse conhecimento, mas lhes faltava a graça de saber viver tais
conhecimentos de tal maneira que fosse possível construir uma fraternidade
alicerçada na justiça e na paz.[2]
Jesus como bom educador não se prende as letras frias da
lei que por sinal não estava sendo totalmente cumprida, levam até o Senhor uma mulher que estava sendo acusa de
adultério, mas segundo a lei de Moises o homem que estava com a mulher também
deveria ser punido[3]
e no entanto somente a mulher estava sendo acusada naquele momento. Muitas
vezes o conhecimento é usado apenas em benefício próprio ou para alimentar as
nossas conveniências, mas com sua atitude misericordiosa Jesus nos apresenta a
pedagogia do amor, em nenhum momento Jesus despreza a lei ou diz que ela não
serve, mas traz um novo sentido para essa lei dentro do contexto e realidade no
qual estavam inseridos, “aquele que não tiver pecado que atire a primeira
pedra”[4],
com essa frase o Mestre faz com que os acusadores reflitam sobre a lei e também
sobre suas vidas, por isso o peso da idade e da experiência tem grande destaque
quando um a um vão saindo a começar pelos mais velhos.
Em diversas passagens dos evangelhos encontramos Jesus no
Templo ou em outros lugares ensinando ao povo sobre as Sagradas Escrituras e
sobre o Reino de Deus, ele cheio do Espírito Santo sempre ensina com amor fugindo
de qualquer interpretação cega da Palavra de Deus. A pedagogia de Jesus nos
ensina que Educação acontece com diálogo, é um processo de constante troca de
conhecimentos e experiências, no caso da mulher adultera Jesus conversa com os
fariseus e também com a mulher, do mesmo modo permite que eles falem e se
coloca disponível a ouvir. “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela
respondeu: Ninguém, Senhor” Jesus, então lhe disse: Eu também não te condeno.
Vai e de agora em diante, não peques mais”[5].
Com essa atitude Jesus nos apresenta o principal víeis da educação que é
conduzir a pessoa pelo caminho certo, não se trata de repressão ou adestramento
como cita o texto base da CF 2022, mas de condução da pessoa para fazê-la sair
do erro e seguir no caminho da sabedoria.
Dois pontos muito importantes que devemos destacar no
texto da CF 2022, primeiro é a questão de que a educação não está presa a
instituição escolar, muitas vezes pensamos que é obrigação da
escola/universidade e do professor educar nossas crianças e jovens, mas essa
missão é de toda sociedade, as instituições acadêmicas têm grande importância
no processo educacional, mas focam principalmente na transmissão do
conhecimento. Educação é algo mais amplo, esse ensinamento deve fazer parte de
todas as áreas de nossa sociedade, lembremos do velho ditado que diz “educação
vem de berço”, ou seja, ela começa em casa na família e deve ser assumida
também pela sociedade civil, todos são responsáveis pela educação de todos. Outro
ponto que merece destaque é a abordagem que o texto faz em relação as
instituições escolares, públicas e privadas, inclusive as de educação
religiosa, que devem a partir de suas realidades e condições trabalhar para que
o processo educativo seja cada mais amplo com a intenção de humanizar as
pessoas e não apenas para uma formação tecnológica e individualista em busca do
lucro.
Dentro dessa perspectiva educacional a vida religiosa consagrada também assume um papel importantíssimo, como operários da messe do Senhor somos seus discípulos e com ele aprendemos a pedagogia do amor. Os diversos problemas de nossa sociedade pós-moderna e pós-pandemia são desafiadores e sem dúvidas a Educação foi um dos setores que mais sofreu com essas realidades, a família, as nossas comunidades e movimentos foram atingidos por um relativismo das coisas que não se preocupa mais em seguir o caminho reto, a educação parece ter se resumido a um simples cronograma letivo e o bem comum deixou de ser mais importante. Dentro dessa realidade “é preciso educar para viver em comunhão. Educar para conceber a democracia como um estado de participação. Educar como ação esperançosa na capacidade de aprender do humano e de estabelecer relações mais fraternas em sociedade e com a natureza”[6], precisamos ser educadores e nos deixar educar, essa conexão com o outro é também a pedagogia do encontro, que ouve, fala, ensina e vive.
FONTE DA IMAGEM: Obras de misericórdia: Suportar com paciência as fraquezas do próximo - Portal Divina Misericórdia (misericordia.org.br)