Vivemos em uma sociedade
completamente cheia de afazeres e muitas vezes nos falta tempo para realizarmos
tudo o que planejamos ou queremos fazer, do mesmo modo, nos falta tempo para
prestarmos atenção nas pessoas que estão próximas de nós, já temos os nossos
próprios problemas e se inquietar com os problemas dos outros parece não ser
algo tão importante.
A humanidade vive uma duplicidade de identidade muito
forte que é a sensibilidade enquanto carência e a indiferença para as demais
situações que nos circunda. É tão certo que somos pessoas carentes que nos
apegamos com facilidade a pessoas, objetos e ideologias, muitas vezes não por
nos identificarmos com estas coisas, mas como uma forma de preencher um vazio
existencial que tortura nosso interior. Somos indiferentes porque ao mesmo
tempo que buscamos essas relações, mas as fazemos pensando somente em nossa
satisfação e não nos preocupamos com o peso e a carência que o outro também
vive.
Acredito que essa carência e indiferença tem sido causa
de muitos diagnósticos de síndromes, transtornos, depressões e ansiedades que
diariamente somos notificados de sua existência. Muitas vezes até nos
surpreendemos quando alguém nos relata que vive essas experiências, nos
surpreendemos pelo fato de que não fomos capazes de ler nas entrelinhas da vida
que determinada pessoa estava sofrendo e enfrentando muitas vezes sozinha essa
situação.
Como consequência dessa triste realidade em muitos casos
o final é o suicídio e que triste final, embora a morte muitas vezes nos seja
indiferente, mas sempre que alguém tira a própria vida a notícia causa certo
impacto aos nossos ouvidos, alguns se angustiam com o acontecimento, outros
tentam entender a situação, há também aqueles que se colocam como juízes e
procuram culpados, mas o que a maioria não admite é que fomos indiferentes a
todos os sinais que o suicida nos deu. Sim, tenho certeza de que a pessoa por
mais espontânea e aparentemente feliz que estivesse, ela sempre apresenta
sinais de que alguma coisa não anda bem. O desejo de suicídio não é uma estratégia
para chamar a atenção, somente quem passou ou passa por esse processo sabe que
o desejo de morrer ocorre pela falta de perspectiva na vida e que somente
morrendo é que poderá acabar com a dor e angústia que sente, cada um sabe onde
seu calo aperta, pode até parecer bobagem, mas para quem passa por essas
situações sabe o peso desses sentimentos.
O suicídio não escolhe vocação, não tem idade, gênero,
classe social, religião... Nesta semana dois casos me chamaram bastante
atenção, primeiro de um padre em Curitiba – PR, e como isso pode soar estranho para
nós, como pode um sacerdote, um homem que deveria estar mais próximo de Deus,
que tem a missão de animar e salvar as almas cometer tal ato que para muita
gente é considerada uma aberração? Esquecemos que o religioso não é anjo,
também é um homem com desejos e sentimentos, que chora e se alegra, que
trabalha e vive com outras pessoas, que tem seus problemas e talentos. O outro
caso ocorreu em Fagundes – PB, minha cidade natal, um pai de família também tirou
a própria vida, era casado, tinha vários filhos, certamente tinha sua rotina de
trabalho e outras atividades, mas algo também lhe pesava ao ponto de não mais
suportar tal fardo.
Percebemos que o mal não está no estilo de vida, mas penso
e até pode ser um pensamento errôneo, essa realidade é algo impregnado na
sociedade e na nossa maneira de nos relacionarmos com os outros, não sou do
grupo de pessoas que pensam que a depressão e o suicídio sejam causados por um
culpado ou trauma, pode até ocorrer, mas não é uma premissa universal, todos
estamos sujeitos as doenças e enfermidades, podemos sucumbir com nossas
fraquezas e o que vale a pena destacar aqui é que mesmo não sendo portadores do
dom da cura, não podemos ser indiferentes ao sofrimentos físicos, espirituais e
psíquicos dos outros, não é frescura, não é falta de Deus, é a realidade de nossa
fraqueza humana e isso não pode ser considerada uma causa inevitável, diz um
ditado popular que a união faz a força e somente unidos, vivendo a
fraternidade, compartilhando nossas dores e alegrias, carregando nossas cruzes,
mas também sendo um Cireneu para o outro é que atravessarmos o Calvário e
chegaremos a glória.
Os casos de depressão e suicídios aumentam cada vezes
mais, não sejamos indiferentes a essas pessoas que precisam de nossa ajuda e
muitas vezes gritam em silêncio por uma mão amiga, por um ombro consolador, por
um ouvido atento que escute nossas angústias e conosco seja a força para
superar os males de uma sociedade que se preocupa com muitas coisas, mas esquece
do essencial. Deus nos abençoe sempre!
Alison Aroldo Fablicio da Silva
Curitiba- PR, 05 de
agosto de 2022.
Fonte da imagem: https://franciscajulia.org.br/o-suicidio-uma-questao-importante-na-saude-publica-mundial/