sábado, 15 de fevereiro de 2020

O NOVO SENTIDO PARA LEI


          Não é raro olharmos para Jesus como um simples revolucionário, como aquele que veio destruir o sistema e abolir as leis. E nos equivocamos quando dizemos que o Divino Mestre não se preocupava com os preceitos religiosos de seu tempo. Corremos o risco de transformar o Cristo em somente uma personagem da história com atuação política, ele vai muito além disso, em si a lei passa a ter um novo sentido, ou melhor passa a ter um sentido.
            Jesus sendo Deus não quer banalizar as regras que os profetas receberam e transmitiram, mas deseja o pleno cumprimento de todas as exigências (Mt 7, 17), não podemos olhar para a lei simplesmente como regras, mas como pratica de caridade e fraternidade, os mandamentos são para nós caminhos de santidade palpável e visível em uma sociedade que vive da aparência e superficialidade.
            No capítulo 16 do livro do Eclesiástico percebemos a graça da liberdade que o Senhor nos dá, mas é importante entender que liberdade não é sinônimo de libertinagem, pois foi “para a liberdade que Cristo nos libertou”(Gl 5,1) e a verdadeira liberdade é fazer a vontade de Deus. Luis Mosconi certa vez falou que “sou livre não porque faço o que quero, mas porque dou sentido aquilo que faço e sou capaz de assumir as consequências do que faço”, ou seja, é preciso encontrar o verdadeiro sentido da liberdade.
            “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal, ele receberá aquilo que preferir” (Eclo 16, 18), porém, partindo do pressuposto de que a verdadeira liberdade é fazer a vontade de Deus, devemos escolher a vida e o bem, “escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19), pois o Senhor “não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar” (Eclo 16, 21).
            Quando falamos em novo sentido para lei queremos dizer que Jesus pede sua aplicação de forma justa e verdadeira, não como os fariseus e doutores da lei, que as impunham para oprimir o povo, e eles que deveriam ser exemplo viviam mergulhos na hipocrisia da falsidade ideológica.  Não basta somente não matar, mas é necessário amar o próximo e evitar que aborrecimentos surjam entre nós, pode ser que não matemos fisicamente, mas com palavras e ações destruímos a vida de nossos irmãos alimentando chateações e intrigas.

            Vivemos em uma sociedade polarizada pelo ódio e com um discurso repleto de moralismo, mas Jesus nos faz um alerta, a lei não serve somente para exigir do outro um bom comportamento ou para que ele faça o que eu quero. A lei é caminho do céu para aqueles que a ensina e também a pratica de forma justa como pede o Senhor (Mt 5, 19), não precisamos de moralismos fúteis, mas da moral enquanto preceitos que nos garanta direitos e deveres que nos levam a Deus. Nesse sentido, Bento XVI nos diz que “um direito que não se baseia na moral se torna injusta; a moral e o direito que não derivem suas motivações da referência a Deus degradam o homem, porque o privam de sua medida mais elevada e da sua possibilidade suprema, negando-lhe a visão do infinito e do eterno”.
            Jesus é radical quando se trata em fazer a vontade do Pai e cumprir os seus mandamentos, para evitar o pecado é necessário fugir das ocasiões. O não cometer adultério, por exemplo, não se resume na ação de traição sexual do seu parceiro, mas de como agimos com o surgimento dos primeiros pensamentos sexuais, não se trata de puritanismo, mas um marido ou esposa que por extinto sente atração por outro alguém deve canalizar seus desejos e não os alimentar, nesse caso o cumprimento não é da lei pela lei, mas prova de amor pelo seu companheiro ou companheira, esse é o novo sentido que Jesus nos apresenta.
            Somos livres para viver a liberdade em Deus, escolhemos a vida e o bem, devemos retirar de nos tudo o que causa morte e pecado. É necessário cortar o mal pela raiz, “se tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e a joga-a para longe de ti” (Mt 5,30), não se trata de esquartejamento, as metáforas que Jesus usa sevem para nos orientar e dizer que a lei, a moral e o direito servem para nos levar a Deus e não como instrumentos de um sistema corrupto e mentiroso que oprimem aqueles que não detém o poder.
            Enfim, para entendermos o verdadeiro sentido da lei e da liberdade não podemos contar com nossa pseudo  autossuficiência, é preciso fazer uso da sabedoria, mas “não da sabedoria deste mundo nem da sabedoria dos poderosos deste mundo, que, afinal, estão votados à destruição. Falamos, sim, da misteriosa sabedoria de Deus, sabedoria escondida, que desde a eternidade Deus destinou para a nossa glória” (1Cor 2, 6-7). Peçamos a graça de viver livres em Deus que seu Santo Espírito nos ajude a discernir a melhor forma do cumprimento dos seus mandamentos.
           

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