sábado, 12 de março de 2022

MESTRE, É BOM ESTARMOS AQUI (LC 9,33)

 

Para nós cristãos a espiritualidade tem grande importância pois é um método necessário que nos leva a transcendência, quando estamos juntos de Deus podemos experimentar sua glória que nos enche de luz e nos ajuda no processo de santidade que todo cristão vive durante este peregrinar terrestre que estamos.

            Como cristão devemos manter sempre acessa em nós a chama da confiança na Divina Providência,  Deus é fiel[1] e nunca abandona seus filhos, Ele faz conosco alianças de salvação para que possamos experimentar de sua glória e como peregrinos que somos neste exilio do céu, caminhamos rumo a santidade para vivermos plenamente as coisas do alto[2]. Quando lemos no capítulo 15 do livro do Gênesis a narração da aliança de Deus com Abrão, podemos perceber que é exatamente a confia de Abrão em uma promessa humanamente impossível que agrada o coração do Senhor.

            Vivemos constantemente em processo de conversão, diariamente precisamos nos lançar nos braços de Deus para receber dele a graças necessárias a cada um. Como Abrão, precisamos sair de onde estamos e oferecer a Deus um sacrifício de louvor, não mais de animais, mas da nossa própria vida. Assim como Cristo se ofereceu na cruz para a expiação dos pecados da humanidade, nós nos oferecemos com nossas cruzes diárias para sermos instrumentos do amor divino e pedras vivas na construção do Reino de Deus pregado por Jesus.

            Abrão foi conduzido por Deus para fora de onde estava, a fim de que  ele experimentasse sua glória, o mesmo acontece com Pedro, Tiago e João, quando Jesus os leva para a montanha para orar[3]. Desses episódios podemos tirar grandes ensinamos, primeiro devemos sempre ficarmos atentos ao Senhor que nos chama, Deus chamou Abrão, Jesus chamou os apóstolos. Segundo ponto importante é que muitas vezes precisamos nos deslocar, seja para fora ou para a montanha, nesse sentido não devemos nos prender simplesmente a questão física ou geográfica, mas muitas vezes esse sair significa entrar em nosso interior para que possamos de fato sentir a presença de Deus que habita em nós.

            Subir a montanha significa ficar mais perto de Deus, como vocacionados a santidade estamos sempre subindo esse monte, dia após dia vamos caminhando até o topo para que vejamos o esplendor da glória divina. Na transfiguração de Jesus narrada pelo evangelista Lucas encontramos o prenuncio do que também será nossa transfiguração, pois se com Cristo morremos, também com ele ressuscitaremos[4]  e é nele que encontramos a fundamentação de nossa fé testemunhada pela Lei e pelos Profetas simbolizados em Moisés e Elias[5] que também aparecem junto ao Cristo glorioso no momento de sua transfiguração.

            É interessante que quando Pedro percebe naquele momento de êxtase a glória de Deus, logo se preocupa em querer montar tendas para permanecer ali, “Mestre, é bom estarmos aqui”, caminhar até o alto da montanha e experimentar a graça de Deus não significa que devemos permanecer lá e num ato quase egoísta querer tal graça somente para si, é preciso descer a montanha, sair de nós mesmos e levar também aos outros tal graça. Nós que cremos na comunhão dos santos podemos perceber isso de forma muita clara quando recorremos aos nossos santos de devoção com uma prece de intercessão, eles que já estão na glória e comtemplam a Face Deus, continuam com suas orações descendo a montanha para nos trazer as graças e realizações das promessas divinas. Nós que aqui ainda estamos, devemos também descer nosso monte interior e levar aos irmãos e irmãos, através da caridade e fraternidade a luz do Cristo transfigurado.

            Jesus no alto da cruz ficou totalmente desfigurado, não tinha aparência humana[6], muitas pessoas hoje também estão desfiguradas e sem aparência humana por causa da guerra, da fome, das doenças e tantos outros males que nos tiram a dignidade, também nesses irmãos Jesus continua hoje sendo o servo sofredor, que tantas vezes sucumbe com o peso da cruz e necessita da ajuda de um cireneu. Que com a meditação da Palavra de Deus, nossos momentos orantes e a vivência do que celebramos na Sagrada Liturgia, sejamos alimentados e fortalecidos para cumprir nossa missão de sermos canais da graça de Deus e assim construindo o Reino de Deus poderemos juntos repetir, Mestre, é bom estarmos aqui.

            Deus nos abençoe sempre!



[1] 1Cor 1, 9.

[2] Cl 3, 1-2.

[3] Lc 9, 28-36.

[4] Rm 6, 8.

[5] Prefácio: A transfiguração do Senhor – Missal Romano.

[6] Is 52, 14.

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