domingo, 1 de novembro de 2020

CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS

 


Em nossa profissão de fé dizemos, “creio na comunhão dos santos”, mas sabemos de fato o que é essa comunhão? Para compreendermos bem essa doutrina é necessário voltarmos os olhares para duas celebrações do início do mês de novembro. No dia primeiro celebramos a SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS e no dia dois, a COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS. Essas duas celebrações expressam muito bem nossa fé na vida eterna e na intercessão dos santos e santas de Deus.

No mesmo credo professamos que cremos na Santa Igreja Católica, essa Igreja que é Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, não se resume apenas na instituição ou nas comunidades existentes. A Sagrada Tradição nos ensina que a Igreja é una, mas formada de três instâncias, são elas a Igreja Militante, formada por todos nós que vivemos este exílio da eternidade, a Igreja Triunfante, que são os santos e santos que já gozam das misericórdias de Deus no paraíso e a Igreja Padecente, que são os fiéis defuntos que passam por sua última purificação para entrarem também nos céus. 

A comunhão dos Santos se dá na íntima relação dessas três instâncias da Igreja. Os santos juntamente com Jesus intercedem a Deus Pai por nós que aqui ainda continuamos nosso peregrinar até a vida eterna. Nós, Igreja militante, rezamos por nossos irmãos e irmãs falecidos para que Deus em sua infinita misericórdia os receba na glória dos santos e assim também possam eles interceder por nós. A Igreja Triunfante reza pela Igreja Militante que por sua vez reza pela Igreja Padecente, assim acontece a Comunhão dos Santos. 

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

No dia primeiro de novembro o calendário litúrgico prevê a Solenidade de todos os Santos, no Brasil quando essa data cai em um dia da semana, a Igreja transfere para o domingo seguinte, possibilitando que todos possam participar com fervor dessa grande festa.

No Antigo Testamento o título de “Santo” era reservado somente a Javé, que é o Santo dos santos, três vezes santo como cantamos na oração eucarística da missa, mas foi o próprio Deus que ordenou que fôssemos santos, “sede santos porque eu, Javé vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). Pelo batismo somos mergulhados em Deus e chamamos a viver a santidade já na terra, todos nós somos chamados a vocação universal da Santidade e é em Deus que encontramos a fonte inesgotável que sustentará nossa santificação. Não somos santos por nós mesmos, mas para honra e glória de Deus, em nós se realiza as maravilhas que a Virgem Maria expressou no seu cântico do Maginificat.

O Catecismo da Igreja Católica recordando a constituição dogmática Lunen Gentium do Concílio Vaticano II diz que: Veneramos a memória dos habitantes do céu não somente a título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a Igreja no Espírito, pelo exercício a caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão entre os cristãos da terra nos aproxima de Cristo, da mesma forma o consórcio com os santos nos une a Cristo, do qual como de sua fonte e cabeça, promana toda a graça e a vida do próprio povo de Deus.

A vida dos santos são tesouros valiosos para a tradição da Igreja,  a missão dos Apóstolos espalhou pelo mundo o Evangelho, o sangue dos mártires é a semente que faz germinar a Igreja em todas as terras, a caridade e espiritualidade de tantos homens e mulheres fortalecem a vida pastoral do povo de Deus. Juntamente com seus exemplos, também suas preces nos sustenta na caminhada rumo à santidade e nos faz permanecer unidos como membros do mesmo corpo cuja cabeça é Cristo. 

Muitas vezes ouvimos pessoas dizer que os santos não podem interceder por nós, mas a história do cristianismo contesta esse sacrilégio, pois desde os primeiros cristão até os dias de hoje são inúmeros os relatos dos milagres e graças que os fiéis alcançam através da intercessão dos santos, Deus atende as preces do seu povo pelos méritos e orações dos santos seus amigos. Também nas Sagradas Escrituras encontramos exemplos da intercessão dos santos. “E o Senhor me disse: ainda que Moisés e Samuel se apresentassem diante de mim, o meu coração não se voltaria para esse povo” (Jeremias 15,1), nessa passagem temos a seguinte situação, Moisés e Samuel já não estavam mais vivos, mas o Senhor apresenta a possibilidade deles intercederem pelo povo. No segundo livro dos Macabeus, Jeremias que já estava morto é apresentado como aquele que ora pela povo, “este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo e pela cidade santa” (2Mc 15,14), no evangelho segundo Lucas capítulo 16 temos a parábola do pobre Lázaro e do rico, Jesus apresenta claramente o ministério de intercessão daqueles que já não estão mais nesse mundo. A fé católica ensina que os santos já estão no Céu e podem interceder por nós (Apocalipse 6,9-10) (Apocalipse 5,9) (Apocalipse 14,3) e (Apocalipse 15,3), em certa ocasião Santa Teresinha falou, “quero passar o meu céu fazendo o bem sobre a terra...” seu desejo era continuar no céu rezando pela Igreja e pelo mundo inteiro. 

Diante desse mistério não podemos cruzar os braços, Deus nos chama para Si e por isso devemos diariamente buscar o caminho da santidade, o Apóstolo Pedro nos exorta dizendo “como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos também vós santos em todo o vosso comportamento”(1Pd 1,15), a santidade não é um “pozinho mágico” que tomamos e da noite para o dia nos tornamos imaculados, mas sim uma luta diária contra o pecado. O Papa Francisco na Exortação apostólica Gaudete et exsultate nos recorda que somos chamados a santidade mesmo nessa desafiadora sociedade do mundo atual, é bonito quando ele destaca que a Igreja tem muitos santos e beatos que com sua vida e exemplos nos encantam, mas que também não podemos esquecer dos nossos avós, pais, amigos que já fizeram sua páscoa definitiva e que tiveram uma vida de santidade servindo também de exemplo para nós. A santidade não é algo distante ou ultrapassada, ainda hoje temos grandes exemplos de pessoas que viveram santamente, recordo São João Paulo II, Santa Teresa de Calcutá, Santa Dulce dos Pobres, Beata Lindalva Justo de Oliveira, Beato Carlos Acutis e muitos outros. Seguir o exemplo dos santos é ter a coragem de sair de nós mesmos e comunitariamente percorrer a estrada da santidade, o Papa Francisco diz que a santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois, os santos nos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora

Celebrar a festa dos santos e santas de Deus é celebrar a alegria do evangelho vivida por tantos homens e mulheres amigos de Deus, também nós somos convidados a nos alegrar no Senhor, pois ele é a nossa salvação. Festejamos a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe onde nossos irmãos, os santos cercam Deus  e cantam eternamente o vosso louvor. Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da fé. Não devemos esquecer a ordem de Jesus, “deveis ser perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48), não se trata da perfeição plena, porque isso somente Deus é, mas dia após dia, subir um degrau a mais na luta contra as nossas fraquezas e limitações vivendo a caridade, pois no final de nossa caminhada terrestre não seremos julgados pelo que fizemos e sim pelo quanto fomos capazes de amar

COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS 

É costume da Igreja Católica rezar pelos irmãos e irmãs falecidos. No dia dois de novembro quando celebramos o Dia de Finados os cemitérios são visitados para homenagear os nossos parentes e amigos que já morreram, levamos flores, acendemos velas e fazemos nossas preces. Essa celebração teve origem no mosteiro beneditino de Cluny. O Papa Bento XV, no tempo da primeira guerra mundial, concedeu a todos os sacerdotes a faculdade de celebrar “três missas” neste dia.

A tradição de rezar pelos falecidos também se fundamenta na Palavra de Deus. No 2º Livro dos Macabeus (12, 43-46) vemos os sacrifícios que são oferecidos pelos mortos na esperança da ressurreição. Na 2ª Carta a Timóteo (1, 18) São Paulo ora pelo seu amigo Onesíforo e seus familiares. Jesus rezou por Lázaro e pela filha de Jairo que estavam mortos. 

A celebração desse dia não deve ter um caráter de luto e tristeza, mas a renovação de nossa esperança na ressurreição. Se cremos que Jesus ressuscitou dos mortos como primícias da ressurreição, também ressurgiremos com o Senhor. A Igreja nos ensina que logo após a nossa morte passamos pelo julgamento individual e caso seja necessário passamos por uma purificação (purgatório) para totalmente livres do pecado gozar da glória dos santos. No final dos tempos quando o Senhor voltar em sua glória haverá o juízo final e definitivamente seremos levados para juntos de Deus, agora também com o nosso corpo glorioso (ressurreição da carne) ou seremos afastados do Criador por toda eternidade. 

A morte continua sendo um mistério para toda a humanidade, a ciência diz que é o fim do funcionamento do organismo, mas a fé cristã atesta que a morte é o início da vida eterna. É preciso acreditar que a vida dos justos está nas mãos de Deus (Sb 3,1), o próprio Jesus nos disse que havia um lugar preparado para nós. No capítulo 25 do evangelho segundo Mateus, Jesus apresenta a volta do Filho do Homem que virá em sua glória cercado dos anjos para julgar todos os povos e separar as ovelhas dos cabritos. Essas passagens bíblicas fundamentam nossa fé na vida eterna e servem como base para a manutenção da comunhão dos santos. Rezamos pelos nossos irmãos falecidos na esperança de que a misericórdia de Deus os permita gozar da eterna paz e ao mesmo tempo, pedimos para nós a graça de perseverarmos até o fim em nossa fé, firmes na esperança que também ressurgiremos com Cristo. Nós cremos na vida eterna, e na feliz ressurreição, quando de volta à casa paterna, com o Pai os filhos se encontrarão.

Amados irmãos e irmãs, que essas celebrações sirvam para fortalecer nossa fé, nos ajude a entender os mistérios de nossa salvação, nos aproxima de Deus e nos faça verdadeiros santos e santas na vivência da fraternidade e caridade. Santa Teresinha quando estava perto de morrer disse a suas irmãs, “eu não morro, entro na vida”, a Irmã Míria T. Kolling também expressou em certa ocasião, “se amanhã eu acordar Deus estará comigo, se eu não acordar, eu estarei com Deus”. Que essa certeza nos acompanhe hoje e em todos os dias de nossas vidas. Deus nos abençoe!

           

[1] Lc 1, 46-55

[2] CIC 957; LG 50

[3] Gaudete et Exsultate, 141

[4] Gaudete et Exsultate, 138

[5] Prefácio de Todos os Santos

[6] São João da Cruz

[7] Missal da Assembleia Cristã, missa dos fiéis defuntos

[8] Jo 14,3

[9] Irmã Míria T. Kolling

Um comentário:

Unknown disse...

Glória a Deus!
Amém!

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